Por todos os cantos do país surgem informações de novos roteiros integrados de cicloturismo, aumentando a oferta de destinos capacitados para receber os amantes das cicloviagens. Diante de um momento promissor para a organização de caminhos regionais de cicloturismo, uma série de municípios têm encontrado na escolha por esta atividade a forma de destacar-se no cenário nacional, revelando mais do que o cicloturista possa esperar.

Há muito, o Brasil têm se destacado no cenário mundial pelo exotismo das paisagens, pela cultura miscigenada de sua gente, pela gastronomia criativa que se revela a cada dia, entre tantos aspectos. O cicloturismo realizado no país, por sua vez, tem sido um importante propulsor de novas economias para os pequenos municípios e sua gente nos espaços rurais.

A intenção desta matéria, esclarecemos, não é traçar comparativos entre os circuitos oficiais, mas demonstrar o potencial incrível para esta atividade em território nacional, bem perto de muita gente.

Quando falamos Circuitos Oficiais de Cicloturismo queremos dar ênfase àqueles grupos de roteiros organizados em regiões compostas por municípios consorciados. Encontramos pela internet uma série de eventos de mountain bike que usam o nome ‘circuito’ por lembrar, a priori, uma volta, um caminho circular envolvendo trajetórias descritas e documentadas em arquivos de GPS.

Acolhida na colônia. © Therbio Felipe M. Cezar

Queremos esclarecer que, ainda que estimulem a prática de cumprir distâncias por estradas urbano-rurais, entrando em contato com a natureza e a cultura de tais localidades, estes eventos ou trajetos não configuram um arranjo produtivo sob o comando de uma gestão público-privada, estruturado para garantir a experiência do cicloviajante, gerar dados sobre o impacto de tal turismo nas localidades visitadas, além de representar alternativas de trabalho e renda qualificados, apenas para citar. Uma coisa não é a outra.

O que levantamos é o que orienta o Ministério do Turismo no tocante à regionalização do turismo no país, face à necessidade de agrupar municípios em pequenas regiões que se autogerem e autossustentem. Apenas para justificar nossa abordagem, recorremos ao que recomenda o MTur e que está muito bem explicado pela Secretaria de Estado de Turismo de Minas Gerais:

“Os circuitos compreendem determinada área geográfica, caracterizada pela predominância de certos elementos da cultura, da história e da natureza, que são forte elemento de sedução para o viajante, além da identidade entre os municípios que se consorciam para complementar os atrativos e equipamentos turísticos com objetivo de ampliar o fluxo e a permanência dos turistas, com consequente geração de emprego e renda”.

Para dar exemplo do que citamos, valemo-nos do Circuito Vale Europeu Catarinense de Cicloturismo, o primeiro circuito oficial brasileiro planejado para ser percorrido especialmente de bicicleta, criado em 2006.

Caminho dos Anjos. © Therbio Felipe M. Cezar

Com início e término na cidade de Timbó – SC, os 300 km de percurso podem ser cumpridos em sete dias, com tranquilidade. Sob a perspectiva de um consórcio que envolveu, inicialmente, nove municípios, as cidades integrantes escolheram ofertar traçados rurais que interligam tais localidades.

Incluem-se nesta oferta as estruturas de meios de hospedagem, alimentação, artefatos artesanais, serviços complementares de entretenimento e lazer, museus, vinícolas, chocolatarias, represas, enfim, um conjunto de mecanismos socioculturais, econômicos e ambientais que fossem positivos tanto para quem pedala quanto para quem vive nestas paragens.

Ao percorrer este circuito, o cicloturista tem contato com as culturas teuto-brasileiras (Deutschbrasilianer) e ítalo-brasileiras, bastante perceptíveis nos casarios e na idiossincrasia, nos falares e na gastronomia. Matérias especiais sobre o Circuito Vale Europeu foram publicadas em várias edições da Revista Bicicleta. Oportunamente, a consolidação do Circuito Vale Europeu Catarinense de Cicloturismo motivou que outras regiões se propusessem a organizar novos circuitos.

Anos mais tarde, em setembro de 2009, foi a vez do Circuito Costa Verde & Mar, primeiro circuito cicloturístico do Brasil a abranger litoral e interior, localizado também em Santa Catarina. Envolve onze municípios, oito dispersos pelo litoral e outros três em localidades interioranas, totalizando 270 km. Realizado pelo Consórcio CITMAR – Consórcio Intermunicipal de Turismo da Associação dos Municípios da Foz do Rio Itajaí, o circuito foi proposto pela ACBC – Associação de Ciclismo de Balneário Camboriú e Camboriú.

Cascatas e montanhas. © Divulgação

Ainda em Santa Catarina, um outro circuito cicloturístico desponta na região norte do estado. Lançado em junho de 2012, o Circuito das Araucárias, que abrange as cidades de São Bento do Sul, Rio Negrinho, Corupá e Campo Alegre (Consórcio Quiriri) apresenta forte imigração polonesa, italiana e alemã, além de referenciais de imigrantes espanhóis, portugueses, tchecos e austríacos. Conta com um percurso de 250 km, divididos em pequenos trechos de 13 a 60 km, os quais não correspondem, necessariamente, aos dias de percurso.

Lançado em fevereiro de 2011, o Circuito Cicloturístico Barra do Piraí está conformado no interior de uma única cidade, Joinville, que é a maior de Santa Catarina. Idealizado pela Fundação de Turismo de Joinville, o circuito de 39 km foi criado como uma alternativa de lazer em meio rural para ser percorrido essencialmente de bicicleta em apenas um dia, já que a cidade é reconhecida por promover eventos de grande porte, como é o caso do Festival Internacional de Dança.

O trajeto está contemplado dentro da APA Dona Francisca e seu desdobramento contribui com a conservação dos referenciais da cultura germânica e com a manutenção de importantes aspectos ambientais, como o rio Cubatão, por exemplo.

Indistintamente, tais circuitos buscam contemplar sempre a natureza, a sociedade e aquilo que ela produz.

Transferindo rapidamente nossa atenção para outra região brasileira, no sudeste, citamos a situação dos Caminhos da Estrada Real (Caminho Novo, Caminho Velho, Caminho dos Diamantes e Caminho do Sabarabuçu), ainda que não configurem como Circuitos Oficiais.

Circuito Vale Europeu Catarinense. © Therbio Felipe M. Cezar

O extenso trabalho que o Antonio Olinto e a Rafaela Asprino realizaram debruçados na elaboração de Guias de Cicloturismo que contemplam aquela região citada, entre outras do país, são um detalhado levantamento de dados que poderia ser utilizado pelos gestores públicos e iniciativa privada das cidades envolvidas, a fim de oportunizar a criação de consórcios que objetivem Circuitos Cicloturísticos.

Estamos falando de fortalecimento das relações que sustentam todos os atores que integram estes caminhos, em formato associativo e cooperativo.

Caso semelhante é o do Caminho da Fé (SP/MG/SP), Caminho das Missões (RS), Vale dos Vinhedos (RS), Rota das Hortências (RS), Caminho da Luz (MG), Caminho do Sol (SP), Rota Chapada do Araripe (CE), Circuito das Frutas (SP), Circuito Turístico Serras de Minas (MG), Circuito Turístico dos Lagos (MG/SP), Circuito Turístico Guimarães Rosa (MG), Circuito Caminho dos Anjos (MG), Circuito do Ouro (MG), Rota do Descobrimento (BA), Rota das Baleias (SC), Caminhos do Indaiá (MG), Pólo Cuesta (SP), Caminho dos Canyons (SC), entre tantos outros, que são regiões turísticas delimitadas com potencial fantástico e que poderão vir a lançar-se como regiões oficiais de cicloturismo em breve.

Enquanto fazíamos o levantamento de informações para este texto, acabava de ser lançado no Rio Grande do Sul o Circuito de Cicloturismo Cascatas e Montanhas, reunindo as cidades de São Francisco de Paula, Riozinho e Rolante com um total de 123 km de extensão, cujo lançamento foi realizado com uma palestra do renomado cicloturista Arthur Simões.

Costa Verde Mar. © Therbio Felipe M. Cezar

Voltando a Santa Catarina, a partir de um processo de roteirização desenvolvido em 2009 e com vistas a amplificar e qualificar a oferta turística da região, o Circuito de Cicloturismo Acolhida na Colônia: Roteiros da Serra Geral, envolvendo os municípios de Santa Rosa de Lima e Anitápolis, vem chamando a atenção pelo incremento da experiência agroecológica durante a estada do cicloviajante. Em breve, será ampliado contemplando outras cidades como Urubici e Rancho Queimado.

Entendemos que a caracterização oficial de circuitos cicloturísticos segue a passos largos em direção a uma ampliação em termos de números, amparados pelo sucesso que têm obtido os municípios que resolveram se organizar de tal forma.

Esperamos que este incremento considerável na cultura da bicicleta enquanto meio de transporte em viagens turísticas leve oportunidades cada vez maiores e melhores a centenas de cidades pelo interior do Brasil.

Uma ressalva que fazemos e que nos chamou bastante a atenção é que em nenhum dos circuitos que percorremos ou que nos chegou informação houve a preocupação com o planejamento cicloviário dos municípios receptores. Dizemos isto porque o cicloturista volta de um percurso em estradas vicinais de terra e em poucos minutos se vê em meio urbano, muitas vezes, em choque com veículos maiores e com velocidades consideráveis, sem que exista uma sintonia entre a experiência cicloturística e a urbana, seja através de estruturas físicas (ciclovias) ou sinalização (placas, ciclofaixas, compartilhamento, etc).

Caminhos da Fé. © Cláudia Franco

Como orientação de referência, o Manual de Incentivo para Municípios Brasileiros – Circuitos de Cicloturismo apresenta um breve comentário muito instrutivo sobre os impactos positivos que a atividade pode trazer para as localidades que optam por tal prática:

• Diversificação da economia regional e incremento do mercado com a criação de micro e pequenos negócios, pois o turismo gera efeitos multiplicadores espontâneos;
• Geração de empregos e demanda pela qualificação profissional;
• Fixação da população no local e fortalecimento dos vínculos comunitários, evitando o êxodo rural;
• Valorização da herança cultural material e imaterial (festas, costumes, danças, culinária, artesanato) com o resgate e perpetuação de atividades típicas da comunidade;
• Intercâmbio cultural entre moradores e visitantes;
• Conservação do patrimônio histórico e da biodiversidade;
• Aumento da consciência da população local e dos turistas sobre a necessidade de proteção do meio ambiente;
• Exploração do turismo na baixa temporada e aumento da permanência do turista na região;
• Publicidade da cidade também para turistas interessados em outros atrativos ecológicos, culturais e históricos”.

Para obter o Manual de Incentivo e Orientação a Municípios Brasileiros: Circuitos de Cicloturismo, elaborado por André Geraldo Soares e por uma parceria entre o Clube do Cicloturismo do Brasil, Caminhos do Sertão Cicloturismo, UCB – União de Ciclistas do Brasil, ABC – Associação Blumenauense Pró-Ciclovias, Grupo CicloBrasil – CEFID/UDESC, BICI – SC – Rede Catarinense de Mobilidade Ciclística, I-Ce – Interface for Cycling Expertise, acesse:
www.goo.gl/9ejKeu