Um dos temas que mais têm nos absorvido nos últimos anos são os Circuitos de Cicloturismo no Brasil. Neste tempo, nós, do Ciclotur Experience e Lobi Cicloturismo, temos fomentado e desenvolvido ações que culminem na experiência cicloturística. Além disto, apostamos na oferta de capacitação das comunidades por onde os cicloviajantes passam, mas tencionamos ir além.

Por todos os cantos do país surgem informações sobre novos roteiros integrados de cicloturismo, ampliando a oferta de destinos capacitados para receber os cicloturistas. Então, o momento é promissor para a organização de caminhos regionais de cicloturismo e faz com que muitos municípios venham escolhendo a atividade para se destacar no cenário nacional. Porém, lembramos e alertamos, se faz necessário contratar profissionais para isto.

Jéssica Souza no Circuito Lagamar SP de Cicloturismo. © Therbio Felipe / Ciclotur Experience

Por que os Circuitos de Cicloturismo são importantes?

Os Circuitos de Cicloturismo no Brasil têm sido um importante propulsor de novas economias sustentáveis para os pequenos municípios e sua gente. E, muito mais ainda quando ocorre nos espaços rurais. A intenção desta matéria, esclarecemos, não é traçar comparativos entre um ou outro circuito. Queremos demonstrar que o desenvolvimento profissional de Circuitos de Cicloturismo no Brasil criar cenários promissores em regiões carentes de alternativas socioeconômicas sustentáveis.

Cicloturista Rayanne Telles no Circuito Vale Europeu Catarinense de Cicloturismo. © Rayanne Telles

Circuitos de Cicloturismo são mais que roteiros

Quando falamos de Circuitos de Cicloturismo no Brasil queremos dar ênfase àqueles roteiros formatados dentro de territórios socioambientais. Estes territórios contemplam comunidades capacitadas para receber este segmento com excelência. Portanto, a capacitação das comunidades é o ponto crucial de toda uma experiência turística, não apenas a composição das paisagens. Sob uma perspectiva de integração regional, porém, os resultados são ainda melhores. Os circuitos podem ser desenvolvidos em regiões compostas por municípios consorciados ou sob gestão turística competente, como é o caso de nossa parceira, a Rede de Turismo Regional – RETUR.

Cicloturista Ivo Leo Schmidt no Vale Europeu. © Therbio Felipe / Ciclotur Experience

O que sugerimos é o que orienta o Ministério do Turismo – MTur no tocante à regionalização do turismo no país. É imperativo agrupar municípios em pequenas regiões que possam se autogerir e auto-sustentar. Apenas para justificar nossa abordagem, recorremos ao que recomenda o MTur, muito bem explicado pela Secretaria de Estado de Turismo de Minas Gerais:

“Os circuitos compreendem determinada área geográfica, caracterizada pela predominância de certos elementos da cultura, da história e da natureza, que são forte elemento de sedução para o viajante, além da identidade entre os municípios que se consorciam para complementar os atrativos e equipamentos turísticos com objetivo de ampliar o fluxo e a permanência dos turistas, com consequente geração de emprego e renda”.

Circuito de Cicloturismo Cascastas e Montanhas. © Therbio Felipe / Ciclotur Experience

Circuitos de Cicloturismo não são eventos de MTB

Encontramos pela Internet uma série de eventos de mountain bike que usam o nome ‘circuito’ por lembrar, a priori, uma volta, um caminho circular. Mas, ainda que envolvam trajetórias descritas e documentadas em arquivos de GPS, são apenas eventos. Queremos esclarecer que, ainda que estimulem a prática de cumprir distâncias por estradas urbano-rurais, entrando em contato com a natureza e a cultura de tais localidades, são eventos.

Estes eventos não são Circuitos Cicloturísticos, visto que ocorrem esporadicamente, não são uma oferta disponível 100% do ano. Não configuram um território gerido para o Turismo, não contam com a capacitação comunitária para gerar negócios, produtos e serviços sustentáveis. São apenas eventos.

Casal de cicloturistas nos Circuitos de Cicloturismo no Brasil. © Therbio Felipe

Os circuitos cicloturísticos são uma oferta anual disponibilizada a partir de um arranjo produtivo com foco no Turismo de Bicicleta. Tal arranjo está sob o comando de uma gestão público-privada, estruturado para garantir a experiência do cicloviajante. Portanto, deve gerar dados sobre os impactos de tal turismo nas localidades visitadas. E, como se não bastasse, necessita criar e sustentar alternativas de trabalho e renda qualificados e dignos, apenas para citar. Uma coisa não é a outra.

Casal Claudia e Filipe Jak no Circuito Lagamar SP de Cicloturismo. © Therbio Felipe/ Ciclotur Experience

Um bom exemplo

Para dar exemplo do que citamos, valemo-nos do Circuito Vale Europeu Catarinense de Cicloturismo, o primeiro circuito oficial brasileiro planejado para ser percorrido especialmente de bicicleta, criado em 2006. Com início e término na cidade de Timbó – SC, os 300 km de percurso oferecem uma diversidade de atrações capacitadas ao Turismo. Sob a perspectiva de um consórcio que envolveu, inicialmente, nove municípios, as cidades integrantes escolheram ofertar traçados rurais reconhecidos por tais comunidades. Atualmente, são 12 os municípios pertencentes ao Vale Europeu.

Incluem-se nesta oferta as estruturas de meios de hospedagem, alimentação, artefatos artesanais, serviços complementares de entretenimento e lazer. E ainda, museus, vinícolas, chocolatarias, represas, enfim. Uma ampla oferta de mecanismos socioculturais, econômicos e ambientais que são úteis tanto para quem pedala quanto para quem vive nestas paragens.

Palestra de Therbio Felipe / Ciclotur Experience – sobre Circuitos de Cicloturismo no Brasil. © Luciane Davies

Ao percorrer este circuito, o cicloturista tem contato com as culturas teuto-brasileiras (Deutschbrasilianer) e ítalo-brasileiras, bastante perceptíveis nos casarios e na idiossincrasia. Tudo isto está presente nos falares e na gastronomia. Portanto, oportunamente, a consolidação do Circuito Vale Europeu Catarinense de Cicloturismo motivou que outras regiões se propusessem a organizar novos circuitos.

Cicloturista partindo para mais um trecho. © Therbio Felipe / CIclotur Experience

E como saber se um Circuito é credenciado

Mas, vale salientar, que quem valida um produto é o usuário. Quem deu ao Circuito Vale Europeu de Cicloturismo o status que goza há algum tempo foram os milhares de cicloturistas, do Brasil e do mundo, que escolheram este destino. Então, tudo isto ocorre por que lá constam atributos paisagísticos e comunitários suficientes para uma grande experiência cicloturística. E, principalmente, aquelas comunidades estão capacitadas para atender à demanda de cicloturistas e fazer com que eles voltem com suas famílias.

Com uma extensão territorial tão absurdamente grande, deveríamos ter mais Circuitos de Cicloturismo no Brasil, habilitados à excelência. Daremos continuidade a esta reflexão sobre os Circuitos de Cicloturismo no Brasil nas próximas matérias.

Texto Therbio Felipe
Equipe Lobi Ciclotur