O Circuito das Araucárias percorre os municípios catarinenses de São Bento do Sul, Campo Alegre, Rio Negrinho e Corupá. Está dividido em trechos que são uma referência dos locais onde há possibilidade de pernoite. Não há etapas fixas ou um número fixo de dias para percorrê-lo. Há, sim, várias opções de hospedagem permitindo que cada cicloturista determine seu próprio ritmo. O grupo “Etanóis” pedalou por este roteiro e conta a sua experiência a seguir.

Ponto de partida: coreto da praça central em São Bento do Sul.

á conhecedores do Circuito Vale Europeu, sabíamos como é gostoso pedalar no interior de Santa Catarina. Então, rapidamente o grupo se formou para a aventura de conhecer o Circuito das Araucárias, outra opção de cicloturismo em terras catarinenses. Formamos um grupo relativamente numeroso e muito animado, que foi batizado de Etanóis.

Foto clássica do circuito, com o Morro da Igreja ao fundo.

O centro de São Bento do Sul e a sua Igreja Matriz, um dos cartões-postais da cidade, valem uma visita. Os passaportes do circuito, com os espaços a serem carimbados em cada trecho, são retirados na Secretaria de Turismo.

Saímos do marco zero do circuito, no centro de São Bento do Sul, e o primeiro trecho tem cerca de 40 km por estradas de terra, ladeadas por bananeiras, hortênsias e, é claro, araucárias. No passaporte há uma planilha de quilometragem detalhada e, além disso, o circuito todo é muito bem sinalizado por placas, de forma que é fácil achar o caminho correto.

As araucárias que dão nome ao circuito.

Logo nos primeiros quilômetros começou a chover. Essa chuva nos acompanharia durante praticamente todo o feriado, mas não tiraria nossa animação.
Na parada do almoço tivemos uma alegre surpresa: chegamos a uma igreja em que estava havendo uma festa alemã, com direito a banda típica e também àquilo que mais nos interessou no momento – um farto almoço self-service. Ao lado da igreja uma Maria Fumaça fazia parada.

Pouco antes do término do trecho, uma parte do grupo parou em um bar para tomar uma cerveja, afinal, o nome do grupo não foi dado à toa! Lá, rachamos o bico com a dona, uma senhora de idade que não hesitava em contar “causos” com palavrões cabeludos. Dormimos nos chalés da dona Maria Mokwa, não sem antes passar uma noite alegre disputando animadas partidas de bocha em um restaurante próximo.

Maria Fumaça ao lado da Igreja do Rio Natal.

Próximo aos chalés está a Rota das Cachoeiras, uma atração imperdível do circuito. O ingresso custa R$ 15 por pessoa. O lugar é bem estruturado, com banheiros, escadas em madeira, pontes, além de uma sede com uma pequena exposição sobre a Mata Atlântica. São 14 cachoeiras, e nem pense em desistir antes de chegar ao topo, pois a última queda é a mais bonita de todas. O passeio dura cerca de quatro horas e é importante tomar cuidado e usar calçado adequado (não pode ser sapatilha de ciclismo), pois há trechos escorregadios.
Depois da visita às cachoeiras, partimos com destino a Corupá. Percorremos neste dia os trechos dois e três, um total de 29 km. No final deste trajeto está a linda vista do Morro da Igreja, com uma casinha rústica à frente e muito verde em volta. Ficamos hospedados na Pousada Parque das Aves, muito agradável, com uma área grande, vários chalés e um rio. Lá nos encontramos com um casal formado por um americano e uma australiana que estavam pedalando desde a Argentina, percorrendo todos os circuitos do sul: Vale Europeu, Araucárias e Costa Verde & Mar.

Casa típica de colono na Pousada Casa Antiga.

O terceiro dia foi o mais difícil de todos, com as subidas mais duras. No trecho quatro são 1.235 metros de ascensão até Campo Alegre, e mais 294 metros no trecho cinco. Apesar da dificuldade, o trajeto é muito bonito, sempre passando ao lado de paisagens verdejantes, casas coloniais e criações de cabras e ovelhas. A cidadezinha de Campo Alegre, pequena e bem arrumada, é outro destaque do dia.

Terminamos o trajeto na Pousada Casa Antiga. O nome já diz tudo: você sente que voltou no tempo ao ver a construção, peças antigas e fotos, além de poder conversar com os proprietários, que já estão lá há várias gerações. Para completar, há uma cachoeira deliciosa no próprio terreno da pousada, e ainda uma casa típica de imigrantes para visitação.

O trecho seis tem 41 km de muito sobe e desce e termina no Sítio Ponte de Pedra. Um dos pontos mais bonitos desse trecho é o Salto do Engenho, uma cachoeira volumosa que em dias quentes atrai muitos visitantes. Poucos quilômetros depois, também é possível avistar da estrada a Cachoeira dos Imigrantes.

Cruzamos várias vezes a linha do trem.

No final do trecho, a hospitalidade do casal Hildega e Helmut é um diferencial do passeio. No fundo da pousada há uma ponte construída por escravos em 1884. O circuito é uma verdadeira aula de história do Brasil. Exemplo disso é a Estrada Dona Francisca, que percorremos e cruzamos várias vezes durante a viagem. Sua construção começou em 1858 e ela foi a segunda estrada brasileira a permitir o trânsito de carroças. O nome é uma homenagem à Dona Francisca Carolina, irmã de Dom Pedro II. Quando ela se casou com um príncipe francês, uma gleba de terras na província de Santa Catarina integrou o dote. Essas terras seriam colonizadas por imigrantes alemães, os mesmos que mais tarde construiriam a estrada (mais conhecida como “Franciscastrasse” entre os colonos), com objetivo de escoar sua produção para o litoral.

No penúltimo dia rumamos para Rio Negrinho. Neste trecho está um dos trajetos mais bonitos do circuito, com um emocionante singletrack e vários quilômetros da Estrada Dona Francisca em que foi conservado o seu pavimento original, formado por grandes pedras irregulares. Esse trecho da estrada é bem mais estreito que os demais e cercado dos dois lados por exuberante Mata Atlântica, com destaque para as diversas samambaias gigantes.

Nesse dia nos hospedamos no hotel João de Barro, localizado na parte alta da cidade. Ainda deu tempo de visitarmos o museu municipal, que fica no casarão outrora pertencente à família Zipperer, os precursores da indústria moveleira em Rio Negrinho.

O oitavo e último trecho do circuito é um dos mais difíceis, por ter quase 60 km, 1.457 metros de ascensão e várias subidas fortes. Mas ainda havia um agravante que não esperávamos: aproximadamente entre o km 25 e o km 35, a estradinha de terra secundária que o circuito manda pegar estava praticamente intransitável, coberta por uma lama espessa formada durante os vários dias de chuva anteriores. O barro grudava nas rodas e ficou impossível pedalar, ainda mais com a bagagem. O jeito foi empurrar morro acima. Após muitas paradas, risadas e escorregões, chegamos a São Bento do Sul no final da tarde, onde pegamos o certificado de conclusão.

O Circuito das Araucárias é uma cicloviagem imperdível para quem ama a natureza e as coisas simples do interior. Além da excelente sinalização, a hospitalidade dos moradores, a beleza das paisagens e a limpeza da região são os grandes diferenciais do circuito.

Conheça melhor o circuito

O Circuito das Araucárias possui um site com informações valiosas para quem está pensando em percorrê-lo. Acesse circuitodasaraucarias.com.br e confira. No site você encontra informações de pontos turísticos encontrados em cada trecho, além dos arquivos para GPS e cartilha para download. Veja as características de cada trecho, segundo o site:

O Circuito das Araucárias é uma cicloviagem imperdível para quem ama a natureza e as coisas simples do interior.

Formando o grupo

Interessante como a rede de contatos dos cicloturistas é ampla, e rapidamente forma um grupo bastante heterogêneo para um pedal. Foi assim que se formou o grupo Etanóis para realizar o Circuito das Araucárias. Thelma e Eduardo, de Jundiaí, tiveram a ideia de percorrer a rota na semana do carnaval e convidaram os conterrâneos Edson e Kátia. Hélio e Rodolfo (de Mogi das Cruzes) e Josmara (de São Paulo) rapidamente confirmaram a presença. A família Petri – Roberto, Silvana e os filhos Caio e Felipe (de Jundiaí) também se juntou ao grupo depois. De última hora, o veterano cicloturista Esequiel (de Jundiaí), o casal Eriston e Kelly (de São Paulo) e a gaúcha Angélica (atualmente residente em Rio do Campo – SC), embarcaram na aventura. Eriston e Kelly se adiantaram para fazer o roteiro todo em quatro dias. Eles foram guerreiros e dois dias antes do restante do grupo já estavam com o certificado na mão.