A ideia para efetivar essa ciclo expedição surgiu no início do ano de 2016 quando concluímos uma cicloviagem de Porto Alegre-RS até o Chuí-RS pela Costa Doce. Estas escolhas geralmente acontecem quando terminamos uma cicloviagem, e já passamos a pensar na próxima. Chegar ao Oiapoque seria para fechar o outro extremo do Brasil. Ao norte, a cidade do Oiapoque é considerada a primeira cidade, ou seja, onde o Brasil começa. Tanto é que na beira do Rio Oiapoque está construído um monumento com este dizer: “Aqui começa o Brasil.” Sendo lá nosso primeiro objetivo, queríamos registrar com fotos antes que o sol se pusesse. Isso após 600 km pedalados em 7 dias e outros 80 km embarcados em um carro de um dos locais. Com bicicletas carregadas, relevo forte e sofrido pelo tráfego de todo tipo de locomoção rodoviária, a lama grudava nos pneus dificultando o pedalar e até o empurrar, e estando no meio da floresta amazônica, ficaria extremamente difícil a travessia de dia. A área também é de reserva indígena, abrigando diversas tribos. Sendo assim optamos fazer a travessia de forma segura para não corrermos riscos desnecessários, como acampar no meio da floresta, enfrentando chuva, possibilidade de contato com onças, (que são relatados pelos moradores de todas as cidades que passamos), sucuris ou outros obstáculos.

© Aquiles Toschi e Aurea Wawzeniak

As cidades conhecidas são: Macapá, Porto Grande, Ferreira Gomes, Tartarugalzinho, Amapá (cidade do estado do Amapá, na qual se localiza a Base Aérea Americana da Segunda Guerra Mundial), Calçoene, Distrito de Carnot, Distrito do Cassiporé I, Cassiporé II (ambos na área indígena), Oiapoque e Saint George na Guiana Francesa. Em todas, nos hospedamos em pousadas ou hotéis. Buscamos conhecer a história de cada uma delas, e também fizemos amizades muito bacanas que nos orientavam sobre todos os aspectos da região, sempre cuidando para que não entrássemos em situações perigosas em relação aos animais, locais onde ocorre o garimpo de ouro, intempéries e outros.

© Aquiles Toschi e Aurea Wawzeniak
© Aquiles Toschi e Aurea Wawzeniak

Iniciamos a Ciclo expedição no dia 26 de dezembro com a saída de Cuiabá-MT de avião, já que no estado do Amapá só se chega com avião ou navio. Como chove muito nesta época e a formação de neblina também ocorre, em sua primeira tentativa de pouso o avião teve que arremeter e voar em círculos por 20 min para nova tentativa, que também foi sem sucesso. Desta forma, fomos conduzidos em segurança para o aeroporto de Belém, no Pará. Ficamos lá por duas horas até que voltamos para Macapá e o pouso foi bem-sucedido. Situação angustiante para os passageiros, mas comum para tripulantes que já conhecem o que ocorre nas condições do tempo de inverno. Ficamos hospedados dois dias na cidade de Macapá, capital do estado Amapá. Lá procuramos o Consulado da Guiana Francesa para pegar o visto para podermos adentrar até a cidade de Caiena. Infelizmente não pudemos esperar os 8 ou 10 dias necessários para se obter o mesmo. Sendo assim, desistimos dos mais de 400 km que pedalaríamos dentro daquele país, mas só por enquanto; vamos voltar e concluir a missão de entrar na Guiana Inglesa e Suriname. Queríamos muito conhecer o Marco Zero, ou seja, a Linha do Equador, que passa em Macapá. Conhecemos também a Fortaleza de São José e a orla do rio Amazonas. Macapá é a única capital brasileira banhada pelo rio Amazonas, o que é relatado com orgulho pelos moradores.

© Aquiles Toschi e Aurea Wawzeniak

Nosso primeiro dia de pedal efetivo foi de 128 km de Macapá até Porto Grande no dia 29 de dezembro. Foi aí que fomos batizados pela primeira chuva amazônica e que se tornou nossa companheira fiel e diária. Teve uma tarde em que precisamos nos agarrar e segurar fortemente as bikes para não sermos levados pelo vento que veio forte com a chuva vespertina. O calor é forte, mas as chuvas e vento são os principais obstáculos para cicloturistas. Nossa virada de ano foi na cidade de Tartarugalzinho. Chegamos perto das 21 horas e, sem nem tomar banho e com os pés encharcados pelas chuvas, fomos participar do 17º Festival da Banana. Admirável a festa organizada pela prefeitura municipal. Claro que não pudemos ficar até a virada pois no dia seguinte teríamos mais desafios pela frente.

“É muito emocionante saber que você está no centro do planeta Terra. “

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Ficamos hospedados dois dias na cidade de Calçoene, eu havia contraído gripe, talvez pelo fato de tomar vários banhos de chuva e da roupa secar ou não no próprio corpo. Também precisávamos muito descansar pelo menos um dia e reavaliarmos os próximos “passos”. Aproveitamos o descanso e fomos conhecer a praia do Goiabal, próximo de onde ocorre o fenômeno da pororoca. O local está sofrendo invasão do Oceano Atlântico, que já causou problemas: casas e comércios da orla já foram totalmente destruídos pela força das ondas. O difícil acesso também impede que a população visite mais aquela linda localidade tão cheia de histórias.

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Chegamos no Oiapoque no dia 5 de janeiro, já anoitecendo. No dia seguinte atravessamos o rio Oiapoque em um barco pequeno e fomos conhecer a cidade de Saint George, na Guiana Francesa. Compramos alguns souvenirs pagos com euro, já que a Guiana Francesa é Departamento da França. Voltamos ao querido Oiapoque de gente trabalhadora, sofrida e adaptada àquelas condições típicas do território, seu comércio diversificado e vibrante em razão da população guianense (que tem moeda forte) que busca todo tipo de serviços e produtos no nosso país.

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O que mais nos chamou a atenção é que a cultura e a arquitetura deixada pelos portugueses são fantásticas, de norte a sul, do Oiapoque ao Chuí. Os traços culturais são fortíssimos, o que consideramos um fenômeno ímpar. Outra observação importante é que as pessoas, ribeirinhos ou não, são ordeiras e trabalhadoras. A cultura pré-colombiana local chega a ser equiparada, por arqueólogos atuais, ao que se encontra nas civilizações astecas e incas. Algo marcante é o uso do símbolo da pororoca em calçadas, paredes, pisos, cerâmicas e outros. Os oiapoquenses respeitam muito a lei do Departamento Francês porque lá realmente a lei é respeitada e cumprida, não tem acordo. Ou você está devidamente autorizado a percorrer o território guianense ou vai preso e deportado, sem contar com o risco de levar uma boas bordoadas dos gendarmes (conforme vários relatos). Escapando destes, pode cair nas mãos dos legionários da legião estrangeira, cujos métodos são temidos no mundo todo.

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Nossa ciclo expedição continha no roteiro a volta pelo rio Amazonas, de navio. Para chegar do Oiapoque-AP até Santana-AP viajamos de ônibus por 12 horas. De Santana-AP até Santarém-PA, viajamos com o navio denominado Amazonas, que foi margeando várias cidades ribeirinhas, uma viagem importantíssima (vale relato posterior), por 36 horas; e de Santarém até Cuiabá-MT de ônibus por mais 36 horas de viagem pela rodovia BR 163, que está quase 100% com cobertura asfáltica.

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Ciclo expedições e ciclo turismos já realizados

Estrada Real, São Bento do Sul a Foz do Iguaçu-PR, Porto Alegre-RS ao Chuy-Uruguai, Porto Alegre-RS a Montevideo-Uruguai, Vale Europeu-SC, Circuito das Araucárias-SC, Vale dos Vinhedos-RS, Cascavel-PR a Guarapuava-PR, Transoceânica do Acre ao Porto de Matarani, no Peru.

Existem muitos planejamentos de outras ciclo expedições como: A saga do Marrano; Roraima; parte da Route 66, entre outras.