O Circuito do Caminho dos Anjos fica nas Terras Altas da Mantiqueira, um trajeto circular que passa pelas cidades de Passa Quatro, Itamonte, Alagoa, Aiuruoca, Baependi, Caxambu e São Lourenço.

Segundo o Walter, que acompanha todo o desenvolvimento da rota, o criador Alexandre Gaspar percorreu o caminho, e ao terminar a rota, analisando a forma que foi acolhido pelas pessoas, a beleza dos lugares por onde passou e para propagar a sustentabilidade e contemplação, o batizou de Caminho dos Anjos.

Não existe hoje uma associação oficial cuidando do circuito, não tem credencial ou carimbos, mas já há um movimento para que isso aconteça, combinado com o trabalho de artesãos locais.

© Ricardo Gaspar

Quando falamos no poder transformador de uma cicloviagem, você passa a ser o seu próprio meio de deslocamento entre os locais, o que está inserido nessa experiência vai muito além do visual e do esforço físico, passa pela imersão na cultura e hábitos locais, no entender da história dos pontos de atração, no fomento do pequeno produtor e no olhar para dentro.

© Ricardo Gaspar

Nosso ponto de partida foi em Passa Quatro, mas é possível iniciar em qualquer ponto. Só preste atenção na hora de dividir a rota, pois alguns lugares têm pouca estrutura de hospedagem; de bicicleta 3 a 5 dias são suficientes, a pé o trajeto pode ser realizado em 10 dias.

© Ricardo Gaspar

Dia 01 Passa Quatro > Alagoa

65 km – 1.500m alt.

A cidade de Passa Quatro tem a estação como fundo e curiosamente existem muitas torneiras de fonte natural espalhadas pela cidade; dizem que leva esse nome porque o rio cruza quatro vezes o local. O ponto de referência para tudo é a Ponte Barriguda.
Fomos na direção de Itamonte, e encontramos a Cachoeira do Vô Delfim, no Rio Verde, batizado assim pela cor verde esmeralda da água. Ali é possível parar alguns minutos para baixar a temperatura e recuperar as energias que serão necessárias um pouco mais a frente.

© Ricardo Gaspar

No km 21, está a placa do Parque Estadual da Serra do Papagaio, com um longo trecho de bloquetes e infinitos 21 km. Esse é o primeiro grande desafio da jornada, a temperatura é um dificultador, e existem alguns poucos estabelecimentos durante a subida. Use essas paradas para se hidratar e continuar.

© Ricardo Gaspar

O trecho final é tranquilo até chegar na cidade de Alagoa, famosa pela receita do queijo parmesão. Ficamos um pouco mais a frente, na Pousada da Pedra da Mitra.

A recepção do casal é um banho de humanidade, recebemos hospedagem e acolhimento.

© Ricardo Gaspar

Para o jantar, uma truta com alcaparra no forno a lenha, que também é utilizado para aquecer a água do chuveiro, ou seja, nem tente entrar na água se o forno não estiver quente; garanto que a água é congelante.

Foi um dos finais de tardes mais lindos que vi, fomos dormir sob o céu estrelado, em um local onde a paz conseguiu um bom tempo para ficar.

© Ricardo Gaspar

Dia 02 Alagoa > Cachoeira dos Garcia

50 km – 1.530m alt.

Com céu azul, seguimos viagem. Começamos com descidas até voltar para a cidade e entrar novamente na rota oficial. Seguimos por 30 km com a companhia do Rio Aiuruoca, foram subidas e descidas até o km 32.

É possível, durante o caminho, fazer uma parada junto ao rio, no km 23, e 5 km adiante você pode mergulhar no Pocinho, onde algumas pequenas quedas formam duas grandes piscinas naturais de água gelada e natural, que traz a alma de volta ao corpo.

© Ricardo Gaspar

Seguindo a altimetria pelo GPS e analisando nossa planilha de dados, é impossível acreditar que teríamos um ganho acentuado no curto espaço de 10 km que faltavam, mas era verdade.

A Pedra do Pico do Papagaio está lá, onipresente, durante todo o caminho, nos observando enquanto seguimos subindo metro a metro.

Na placa do Parque Estadual da Serra do Papagaio, há uma sinalização de 9 km até a cachoeira dos Garcia. A distância é um pouco menor, mas o trecho é duríssimo; prepare-se para descer e empurrar bastante a bicicleta.

© Ricardo Gaspar

O calçamento pé de moleque é feito de pedras sem qualquer padrão, soltas no piso, além disso há uma subida inclinada, e manter a bike em linha equilibrada é uma dificuldade, pois as pedras te jogam de um lado para o outro.

Existe um ponto de apoio na metade da subida, não espere grande coisa, é um container verde com informações do parque. Quando passamos por ele, estava fechado, mas ainda assim vale parar e descansar um pouco.

Também vale uma parada no km 43, na pousada Canto das Bromélias: no deque de madeira você encontrará algumas siriemas no jardim, e já é possível ter uma visão de cima de toda região. Depois, são mais 3 km até a entrada do Hostel Casal Garcia e Cachoeira dos Garcia.

© Ricardo Gaspar

Chegamos com o tempo abafado, alguns pingos de chuva lavando nossa alma, a sensação de realização de tarefa cumprida e o visual, que mexe com todos os nossos sentimentos.

A cachoeira dos Garcia, distante 100m do hostel, considerada uma das mais bonitas do Brasil, é um lugar desenhado a mão, espetacular!

O restaurante é comandado pela Renilda, e tem pratos lindos e deliciosos. O quarto tem grandes janelas, para que você seja acordado pelo sol e uma enorme faixa laranja cortando o céu entre as montanhas e as nuvens. Um presente.

© Ricardo Gaspar

Dia 03 Cachoeira dos Garcia > São Lourenço

74 km – 1.490m alt.

Depois de tanto subir, iríamos finalmente descer, e muito, mas…

Havia ainda algumas subidas pela frente, as pedras voltaram, e por 3 ou 4 km só subimos, até chegar ao local com maior elevação do circuito, 1.900 m. A sonhada descida começou no Vale do Gamarra, terreno é composto por grandes pedras e de visual impressionante.

Descemos 1.800m, mas o terreno exige habilidade e muito cuidado com as pedras soltas e grandes e valas, que fazem a velocidade ser praticamente a mesma que na subida. Em alguns lugares descer da bike é a única opção.

A Casa Rosa é um dos poucos pontos de apoio nessa etapa. Para chegar lá, encontramos a pior subida do planeta. Nesse apoio, é interessante parar para almoçar e reabastecer as caramanholas.

Nós decidimos almoçar em Baependi, assim, o trajeto até São Lourenço ficaria bem mais suave, com muitos trechos planos e alguns da Estrada Real. Mas a sinalização não é muito boa, por isso preste atenção nas entradas.

© Ricardo Gaspar

Dia 04 São Lourenço > Passa Quatro

55 km – 900m alt.

Não existe dia fácil, mas o último veio como um bálsamo. Subimos na saída da cidade, onde é possível encontrar duas lojas de bike para qualquer eventual reparo, e depois seguimos por quase 30 km de boas retas e subidas curtas, por entre as sombras das árvores de um trecho da Estrada Real.

Ali, o visual já não é o mesmo dos outros dias. Passando o Vilarejo Porto, há uma serrinha de 4 km, com uma inclinação amiga e a visão das montanhas em volta. Depois, uma descida longa até a chegada com a visão de Passa Quatro entre as montanhas.

O Caminho dos Anjos tem uma beleza, energia e acolhimento humano singulares. Em quatro dias é possível viver diferentes emoções, que é um dos propósitos de uma cicloviagem. Também é importante que você sempre procure profissionais que facilitem essa experiência positiva, já que existem lugares distantes e com pouca estrutura; qualquer eventualidade sem um planejamento pode encerrar prematuramente essa vivência.

© Ricardo Gaspar

Uma cicloviagem é sem dúvida transformadora, uma forma de purificação. Entramos carregados e a natureza, e as pessoas do caminho, nos entregam muito melhores do outro lado. Todo os nossos bens materiais sujam e empoeiram, mas nossa alma sai limpa e leve.

10 Coisas Imperdíveis do Caminho dos Anjos

  • Lojas de queijos e produtos de Minas da Estação de Passa Quatro (compre na volta);
  • Um mergulho na piscina natural do Pocinho;
  • A Cervejaria do Lilo e da Letícia na Pedra da Mitra em Alagoa;
  • O visual no deque no Canto das Bromélias;
  • A cachoeira dos Garcia;
  • O amanhecer no Hostel Casal Garcia;
  • A truta da Renilda;
  • Um minuto em silêncio no Vale do Gamarra;
  • O almoço na Casa Rosa;
  • O Parque das Águas em São Lourenço.

Faça uma cicloviagem!