AGRICULTURA SINTRÓPICA NO CICLOTURISMO É REVOLUÇÃO

Existe um conceito estratégico em relação à cultura da sustentabilidade que é o de “sintropia”. Ele se refere ao padrão de organização das partes que compõem um sistema. Ao contrário de “entropia”, que trata da medida de desordem e imprevisibilidade entre as partes, a sintropia representa a noção de ordem e previsibilidade em um dado sistema, com tendência à geração de abundância.

© Pedal Curticeira

Foi por meio da sintropia que ao longo de 3,5 bilhões de anos atrás a energia solar foi sendo organizada nas mais diversas formas de vida no planeta. Toda essa organização serviu de base ambiental para a formação e evolução de ecossistemas e toda diversidade e complexidade ecológica que conhecemos. Desse modo, se verifica um padrão natural que favorece processos de abundância.

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Mas se o assunto aqui é estabelecer paralelos entre agricultura familiar ecológica e cicloturismo, por que falar destes conceitos físicos e história natural? Bem… isso porque tem tudo a ver com a possibilidade de organizar e desenvolver comunidades de modo que possam gerar abundância em territórios e áreas rurais, mesmo que desprovidas de maiores recursos.

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Quando um produto cicloturístico é criado – seja um roteiro, circuito, rota ou uma via ecológica – ele pode ser formatado de forma compatível com os princípios da sintropia. Para isso, vale pensar nos elementos que compõe as comunidades em questão e a qualidade potencial das experiências e interações possíveis entre elas, o cicloturista e o ambiente (ou sistema ecológico) que está sendo apresentado e também fazendo parte. Os resultados dessas interações, quando bem planejados, podem marcar a memória emocional do cicloturista, das famílias que os recebem, dos agentes que os conduzem, com grandes chances de ter seus conhecimentos, princípios, valores e referenciais de vida internalizados por todos atores envolvidos.

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Partindo destes pressupostos foi concebido o projeto “Via Ecológica Serra dos Tapes-RS” de cicloturismo. O desafio aqui, é aplicar a sintropia como princípio gerador de desenvolvimento sustentável do território a partir da experiência cicloturística agroecológica. A região da Serra dos Tapes-RS congrega a maior concentração de pequenas propriedades de agricultura familiar de toda América Latina. Por isso, aliar o cicloturismo às experiências agroecológicas de famílias agricultoras representa um potencial impulso regional que fomenta uma visão do cicloturismo com uma espécie de “arranjo produtivo local” (APL) de base comunitária sustentável.

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O ponto alto da experiência sintrópica do cicloturismo na Serra dos Tapes-RS são as acolhidas dos ciclistas por famílias agricultoras que desenvolvem sua produção em “sistemas Agroflorestais (SAF’s). Lá, eles conduzem os grupos nas propriedades e contam em detalhes a forma como as transformaram terrenos antes considerados “terra arrasada” em, hoje, paraísos de produtividade e abundância.

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À primeira vista parece impossível, mas conhecendo a realidade no próprio local e diante de tantas evidências, ninguém sai de lá sem acreditar que uma revolução em sustentabilidade no campo é possível. Além do mais, para estes agricultores a revolução rural sustentável é nada menos que rotina! Por isso achamos tão importante criar esta oportunidade de existir um produto cicloturístico onde a sintropia é o maior eixo norteador, sendo também o maior combustível de esperança por um mundo mais justo, inclusivo e abundante.

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A experiência cicloturística sintrópica deve ser leve, lúdica, imaginativa, interativa e prática. O desafio reside em saber como apresentar conceitos e princípios altamente complexos do modo mais simples e palatável possível. Pra isso, nada melhor do que deixar os próprios agentes desta revolução rural contarem suas histórias, em seus próprios ambientes de transformação. Pra isso eles usam suas falas cruas, simples, desprendidas de regras gramaticais e linguagens formais, porém abundantes em amor e dedicação àquilo que vivem e acreditam do fundo de suas almas. Hoje, conhecendo suas histórias, sei que eles estão e sempre estiveram certos em suas aspirações.

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As mãos calejadas destes agricultores e suas evidências tatuadas na pele escondem imensurável abundância de dedicação, trabalho e generosidade a quem se nutre do fruto de seutrabalho. Eles comercializam alimentos em feiras ecológicas, associações de consumidores e comércios locais. Mas nada substitui a experiência de estar lá e SER com eles.

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Assim percebemos que a escolaridade que muitos não deram continuidade em razão da necessidade de trabalhar pela sobrevivência, os fizeram donos de um saber tão rico e abundante. Não há doutores, pós doutores ou PHD’s no assunto que não tenham um infinito de conhecimento real e palpável a aprender com estes verdadeiros mestres das leis naturais que regem a vida. Viva a agricultura sintrópica! Viva o cicloturismo como forma de desenvolvimento de territórios. Viva a Serra dos Tapes-RS!

Leandro Karam

(Pedal Curticeira/Projeto Via Ecológica Serra dos Tapes-RS)

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