A Alsácia hoje é território francês, mas em qualquer lugar que você pedale, você encontra influências da cultura alemã.

Ela é uma das regiões mais tradicionais de vinhos na França, que avança também no território alemão. Mas por causa da influência alemã, a cultura cervejeira sempre foi muito forte nesta parte do mundo e hoje ela produz 60% da cerveja francesa.

Situada entre as margens do rio Reno (a leste), que delimita hoje a fronteira franco-alemã, e a cordilheira de Vosges (a oeste), esta região tem uma história conturbada, pontuada por guerras e conflitos, o que fez com que fosse considerada, por várias vezes e de forma alternada, território alemão e francês.

Para não irmos ainda mais longe no tempo, entre os anos 962 e 1648, a Alsácia fazia parte do Sacro Império Romano-Germânico, que cedeu à França nesse último ano, pelo Tratado de Westfália, a parte sul de seu território. Anos mais tarde, em 1681, a parte setentrional, onde se situa Estrasburgo, foi também anexada ao território francês. Dessa forma, durante um longo período, que terminou em 1871, a Alsácia (juntamente com a Lorena), foi área integrante da França.

© Paulo de Tarso / Sampa Bikers

Vencida na guerra de 1871 contra o Império Alemão, a França cedeu o território ao seu tradicional inimigo, retomando em 1919, com a vitória dos aliados na I Guerra Mundial. O Tratado de Versalhes sacramentou o fato. A Alsácia permaneceu francesa até 1940, quando as forças do III Reich invadiram a França e a tomaram. A retomada francesa ocorreu pouco depois, em 1945, com a derrota alemã. Desde esta data, a região pertence à França.

“A Alsácia possui uma forte identidade cultural, às vezes frencesa, à vezes alemã.”

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Tantos conflitos têm seu motivo, pois a Alsácia e a Lorena são zonas estratégicas, perto de onde começa o rio Reno, que atravessa seis países (Suíça, Áustria, Liechtenstein e Países Baixos, além de França e Alemanha) e desagua no mar do Norte. Hoje, ela é uma das províncias francesas mais ricas (a segunda do país, atrás apenas de Ilê-de-France) e de extrema importância política e econômica, lembrando que em Estrasburgo situa-se a sede do Parlamento Europeu.

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Por tudo isso, a Alsácia possui hoje uma forte identidade cultural, às vezes francesa, às vezes alemã, o que torna a visita a essa belíssima região, arduamente reconstruída depois da destruição da II Guerra, uma experiência extremamente rica e curiosa.

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A Rota do Vinho na Alsácia é um caminho que interconecta pequenos vilarejos desta região da França, famosa pela enormidade de vinhedos ao seu redor.

“Pedalar na Alsácia é como viajar no tempo.”

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Na prática, podemos dizer que começa em Estrasburgo e termina em Colmar, ou vice-versa… De bicicleta seguimos cruzando os muitos vinhedos, na encosta dos Vosges e muitos vinhedos mesmo! Já pedalei por vários lugares de vinhedos e nunca vi um local assim. Cruzando inúmeras vilas medievais, distantes no máximo três quilômetros uma da outra, todas elas com plantações de uva, interessantíssimas, quase sem exceção, charmosíssimas, coloridas e floridas a todo instante. Elas disputam entre si para ver qual a mais florida, a mais bem cuidada. Todo ano há um concurso nacional e as cidades participantes são classificadas em um ranking chamado Ville de Fleurie (cidade florida), que vai de 1 a 4 flores e na entrada de cada cidade há uma placa indicando sua classificação. Há também em outro ranking, esse sim mais para fins turísticos, que se chama Les plus beaux villages en France, que elege as vilas mais bonitas do país.

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Pedalar pela rota dos vinhos da Alsácia é como viajar no tempo, uma cicloviagem de sabores e aromas inesquecíveis dos vinhos brancos ou da cerveja da Alsácia, acompanhados de uma deliciosa gastronomia que une o refinamento da cozinha francesa aos pratos de origem alemã.

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Alguns destaques:

Vinhedos: os vinhedos delimitam o espaço urbano, de uma forma que você atravessa a rua e já está dentro de um vinhedo. As cidades são próximas, e a cada 2 ou 3 quilômetros há uma vila, de forma que as vilas estão entre as uvas. Não existem cercas, e você vê os cachos intactos na beira da estrada ou nas ruas limítrofes sem qualquer sinal de violação.

Cervejas: A Alsácia possui marcas famosas como Kronenbourg, Fischer e Meteor. É normal observar nos bares e restaurantes de Estrasburgo uma maior quantidade de pessoas bebendo cerveja. Segundo dados locais, o consumo dessa bebida supera o de vinho, sobretudo no verão, quando temperaturas mais elevadas são registradas.

Riquewihr e Ribeauvillé são as mais famosas da Rota.

Riquewihr: considerada uma das mais lindas e charmosas da Rota, junta com sua vizinha, Ribeauvillé. Seu centro histórico é inteiro cercado de muralhas e, em cada ruela, uma casa típica de cartão-postal. Por isso, também é uma das mais visitadas pelos turistas. A Tour des Voleurs, uma torre de pedra medieval, se destaca em meio às casinhas de enxaimel.

Ribeauvillé: bem maior que Riquewihr, mas não menos charmosa, embora eu tenha preferido a primeira. No alto de uma montanha, um castelo se destaca. Os grand crus locais são vinhos muito apreciados.

Chateau Du Haut Koenigsbourg: um lindo castelo de arenito vermelho desponta no alto de uma colina, repleto de torres, em meio ao Vosges. Vale o desvio.

Cozinha Maravilhosa: Também fortemente influenciada pela culinária alemã, a cozinha dessa região francesa caracteriza-se pelo uso de carne de porco em inúmeros pratos. A lista de pratos tradicionais inclui Baeckeoffe, tartes flambées (flammekueche), choucroute e fleischnacka. 

Quem Leva:

O Sampa Bikers organiza a cicloviagem pela Rota dos Vinhos da Alsácia. Em 2019 a cicloviagem acontecerá de 9 a 15 de junho. Com início em Friburgo na Alemanha e final em Estrasburgo na França, em um trajeto de aproximadamente de 330 quilômetros.

Mais informações: http://sampabikers.com.br/cicloviagem/rota-vinho-da-alsacia/

O vinho alsaciano

Diante de tantos conflitos ao longo dos séculos, houve algo na Alsácia que sempre esteve acima das disputas franco-germânicas: o seu vinho. Em especial, o branco, tão famoso e aclamado mundialmente. Quando alguém fala em Riesling e Gewürztraminer, a primeira associação que se faz é com essa maravilhosa província (por enquanto) francesa.

A região produtora de vinhos da Alsácia se estende por 110 quilômetros desde a cidade de Thann, perto da fronteira suíça, até Marlenheim, ao norte, próximo de Estrasburgo. A zona vitivinícola se divide em duas: Alto Reno e Baixo Reno. Percorrer a “Rota do Vinho”, que corta todo o território, e visitar suas encantadoras cidades medievais e seus vinhedos realmente vale a pena. É imprescindível passar por Colmar, Turkheim, Riquewihr, Ribeauvillé, Selestat, Obernai e, finalmente, Estrasburgo, a metrópole regional, com todos os seus encantos e sua rica vida cultural e gastronômica.

A variedade de microclimas e solos que se encontra pelo caminho é enorme, o que possibilita ao vinhateiro alsaciano adaptar da maneira mais sábia as uvas regionais aos terrenos mais adequados. O peso do conceito de terroir é ali levado tão a sério quanto na Borgonha, e o resultado são vinhos brancos de grande equilíbrio e fineza. Granito, argila, calcário, areia e greda são os elementos que constituem esse rico mosaico de terrenos, fruto de antigo desmoronamento de partes das montanhas do maciço de Vosges e da Floresta Negra.

Classificações

Todos os vinhos alsacianos são da categoria AOC (Appellation d’Origine Controlée). Ligados à tradição alemã, os vinhos ostentam no rótulo o tipo de uva com que são feitos – quando são monovarietais (100% da mesma uva na maioria dos casos). Quando se utiliza uma mistura de várias cepas, o nome “Edelzwicker” aparece no rótulo. São três as categorias dos vinhos: 

AOC ALSACE – 12 mil hectares de vinhedos – A denominação mais comum. Abarca a maior parte dos vinhedos. 

AOC ALSACE GRAND CRU – 500 hectares de vinhedos – Esta denominação só pode ser utilizada por quatro castas: Riesling, Gewürztraminer, Muscat e Pinot Gris. O terroir desempenha fator preponderante. Leva-se em conta também o rendimento por hectare e o grau de açúcar das uvas. São 50 os vinhedos Grand Cru da Alsácia e devem ser mencionados nos rótulos. 

AOC CRÉMANT D’ALSACE – Os vinhos espumantes da região, que gozam de grande prestígio, pertencem a esta categoria. São elaborados pelo método tradicional como o Champanhe (segunda fermentação na garrafa) e são brancos na sua maioria. Pinot Blanc, Riesling, Pinot Gris, Pinot Noir e, raramente, a Chardonnay, são as uvas utilizadas. Os rosés são feitos exclusivamente com a uva Pinot Noir.