A primeira notícia sobre uma fenda misteriosa nos apareceu meio por acaso através de um vídeo sobre as belezas naturais de Santa Catarina, mas sem dizer claramente onde ficava.

Tateando pela web, acabamos tomando conhecimento de uma outra fenda existente no Paraná, também pouco conhecida.

A Fenda do Nick, ou simplesmente, “A Fenda”, foi descoberta não faz muito tempo na área rural de Tibagi-PR, durante as medições de uma propriedade rural.

Alguns dizem que é erosão, outros, uma falha geológica, uma rachadura na rocha, com cerca de um quilômetro de extensão e altura variando de 10 a 60 metros.

Pesquisas e mais pesquisas e eis que encontramos um percurso registrado no site do Wikiloc com a localização da Fenda. E lá fomos nós para o interior do Paraná.

Decidimos sair de bike a partir de Castro por volta das 9 horas da manhã para chegar na entrada da trilha por volta do meio dia. Percorremos 25 km de asfalto pela rodovia PR-340, subindo e descendo as estradas dos Campos Gerais e dali para frente seguimos por uma estrada secundária.

Estrada rural com os campos de soja. © Vânia Elza de Farias

Na saída do asfalto nos informamos com alguns moradores sobre o local de nosso passeio e seguimos mais confiantes.

A estrada secundária por si só já valeu nosso esforço. Excelente para pedalar, era inicialmente ladeada por plantações de pinheiros e depois por plantações de soja, com visual de campos sem

Completados os 10 km pela estrada de chão, paramos no local que seria o início da trilha — mas onde estava a fenda?

Não existiam indicações sobre a localização dessa fenda misteriosa, não haviam placas na estrada de acesso e muito menos qualquer identificação no local da entrada da trilha. Parecia que ninguém queria informar como chegar lá.

Olhávamos para a mata e não conseguíamos avistar um caminho ou entrada.

Subimos e circundamos o local onde estaria o traçado da trilha e ela não aparecia para nós. Eu dizia “Acreditem, ela está aqui na frente de nós, só que não estamos vendo”.

Mas eis que nos afastando um pouco para a direita do local onde havíamos chegado apareceu uma entrada e um caminho surgiu na frente de nossos olhos. Bastou caminhar alguns metros entre arbustos para vermos uma pequena erosão por onde descemos com as bicicletas, sem ter certeza do que nos aguardava.

E ali estava ela, A Fenda, em todo o seu esplendor.

Superando os temores iniciais de um ambiente claustrofóbico, A Fenda se parece muito mais com um extenso corredor do que com uma caverna.

O teto recoberto pelas árvores da mata permite que a iluminação natural entre naquele ambiente. As paredes, de pedra, são recobertas por um musgo esverdeado e o chão é de uma areia úmida, mas firme.

E ao longo desse caminho existem pedras entaladas acima de nossas cabeças, lembrando que em algum momento do passado elas rolaram, mas não chegaram ao fundo.

Observamos que a fissura na terra apresenta uma leve curva no sentido do comprimento, o que não permite que seja avistado o final a partir da entrada, e uma descida suave com alguns desníveis separados por grandes pedras.

Visão mais ampla da Fenda. © Vânia Elza de Farias

O nosso estado de admiração logo se tornou em euforia e quando vimos já estávamos pedalando naquele extenso corredor que não conseguíamos ver o final.

Facilmente ganhamos velocidade e avançamos sem dificuldades até chegar em um desnível de aproximadamente um metro. Mas bastou passar a bicicleta para baixo e continuar. No terceiro nível do corredor o chão já estava bastante úmido, com gotas de água que caíam da parte superior e escorriam sob nossos pés.

Eis que no final desse longo corredor uma forte luz aparece e se descortina uma segunda parte da fenda, mais larga, com uma rica vegetação. Algo como um jardim secreto, ou um elo perdido no tempo.

Nessa parte da fenda a iluminação natural é mais forte e o chão tem um pequeno filete de água.

Não tão extenso quanto o corredor inicial, o jardim termina em uma barreira que desbarrancou em algum momento do passado.

Alguns do grupo resolveram escalar este pequeno obstáculo e descobriram que esta barreira era a separação para a terceira parte da fenda, muito mais profunda e sinistra que as anteriores.

Não tive coragem de subir para ver, mas os que foram relataram que a barreira, na verdade, estava suspensa sobre a real fenda, que dali para frente era muito mais profunda e que se teria acesso somente por cordas/rapel e com equipamento de segurança apropriado.

Como o tempo ali havia passado rapidamente, notamos que a iluminação na fenda já havia mudado bastante e optamos por voltar enquanto ainda tínhamos iluminação natural disponível.

Pôr do sol na estrada, a caminho de Castro, PR. © Vânia Elza de Farias

E fomos retornando, refazendo todo o percurso em sentido inverso. Não sem antes pedalar várias vezes cada trecho, indo e vindo, como que se despedindo desse lugar encantado.

Saímos em estado de êxtase, maravilhados pela oportunidade de conhecer algo tão incrível. Quanto à fenda de Santa Catarina? Isso promete uma outra história.

Informações úteis

Distância a partir de Castro-PR: 35 km
Quando visitar: Numa época de tempo seco, em horário próximo ao meio-dia para ter uma boa iluminação natural. Levar farol ou lanterna.

Trajeto percorrido

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Strava: strava.com/activities/548699815

Wikiloc: revistabicicleta.com.br/rb/dmg