Muitos jovens que começam no BMX vivem uma ilusão. Confundem a sensação de liberdade que há em praticar esse esporte, com ter liberdade para fazer só isso pelo resto da vida. É preciso saber equilibrar o sentimento de liberdade do BMX com os compromissos profissionais e educacionais que a vida vai cobrar depois… Conheça a história de três BMXers do nordeste brasileiro que, além de serem uma referência nesse esporte, também são um exemplo de vida!

Nossos sonhos não são realidades, por isso os denominamos de sonhos. Se verificarmos o quanto é importante a determinação, o treinamento e até o dom de pilotos profissionais, vamos perceber que há algo de errado com muita gente. Esse algo de errado é a “determinação” apenas em palavras que alguns jovens dizem ter com o nosso esporte, e a falta de compromisso com o futuro, traduzido pelo desleixo com os estudos e o trabalho, que farão falta durante a vida.

Frequentemente acompanho a não preocupação dos caras que praticam BMX com o mundo escolar. E o pior é que a grande maioria que não tem preocupação nenhuma com esse mundo são os mais pobres, sendo assim, os que mais irão sofrer ou continuar a se privar de várias coisas futuramente. Acham que o mundo do BMX é a libertação, mas os estudos é que realmente trariam liberdade.

Acham que o mundo do BMX é a libertação, mas os estudos é que realmente trariam liberdade.

Andar de BMX e ter um ótimo nível é uma coisa invejável, para poucos. No entanto, não fiquem atrelados à frase: “BMX Forever”, ou seja, BMX para sempre, por que essa filosofia não irá funcionar. Ao longo da minha trajetória no esporte pude ver que sempre os que dedicavam mais horas ao esporte são, hoje, os que têm os piores empregos, ou que continuam desempregados e passando por necessidades, tendo inclusive que largar o esporte.

Por outro lado, aqueles que eram bons e que por algum motivo conseguiram disciplinar bem o tempo entre andar de BMX e se dedicar a algo do intelecto, são os que vivem melhor no presente, ou que viverão melhor no futuro, e dessa forma ainda podem desfrutar do esporte por muito tempo, sempre com uma boa bike, sempre também com dinheiro no bolso para viajar e conhecer novos picos.

Precisamos de boas referências, não só em manobras, mas em exemplos de vida. Cristian, Marcelo e Renato, BMXers da região nordeste, conseguiram aliar o esporte aos estudos e ao trabalho. Hoje, além de referência no esporte, são profissionais bem-sucedidos e, por isso, podem continuar praticando BMX.

Cristian Helly, 24 anos, de Cabo de Santo Agostinho – PE

Rider pernambucano de alto nível, o Bob, como também é conhecido, tem no seu currículo esportista a façanha de ser um dos primeiros a executar um flair com precisão e maestria, sendo até hoje um dos melhores pilotos de Pernambuco.

Cristian se formou em Engenharia Civil e hoje se consagra fazendo projetos importantes, não só para grandes empreiteiras, mas também para o bem da nação BMX. Um dos seus primeiros projetos foi a pista pública da cidade de Cabo do Santo Agostinho, litoral do estado. Atualmente, além de outros projetos, ele se dedica à criação de novas linhas para uma pista, igualmente pública, que poderá ser construída na área externa do ginásio esportista O Geraldão, em seu estado.

Dica do Cristian

Para quem está começando no BMX: “Procure se divertir e sempre pensar no próximo, no seu amigo de rolê, ajudando-o a aprender e mantendo a humildade, pois sempre haverá aqueles que conseguem desenvolver melhor as manobras, mas temos que ter a humildade e o amor ao próximo sempre”.

Sem se iludir: “Ando de BMX desde os 13 anos. A partir dos 20 anos, quando estava no meio da faculdade, fui me deixando levar pelo rolê. Às vezes estava em uma prova de cálculo pensando em acabar logo para sair pedalar com a galera. Pensar mais nas manobras do que nas aulas estava atrapalhando os estudos. Tive que aprender a conciliar as coisas. Quando comecei a trabalhar, havia dias em que saía do trabalho às 17 horas, chegava em casa às 18 h 30 min e saía para andar em Porto de Galinhas às 19 h 30 min, voltando para casa por volta da meia-noite. Para se proteger da ilusão do “BMX Forever”, lembre-se que o BMX é uma diversão, algo para o seu bem, para estar em comunhão com a galera. Em nosso país o esporte é caro e manter sua bike é difícil demais. O BMX vai ser “para sempre” se você colocar isso em seu coração e não se preocupar em ser o melhor ou ganhar dinheiro com isso”.

Marcelo Rodrigues, 22 anos, de João Pessoa – PB

O Marcelo talvez não seja uma referência no mundo escolar, no entanto, é um sucesso no mundo das artes gráficas e, por isso, pode ser considerado uma referência para o nosso esporte. Conhecido por ter um rolê agressivo e bastante técnico quando o assunto é Real Street, ao mesmo tempo em que é um ativista do esporte, Marcelo chama a atenção por ter uma criatividade fora do normal em edição de vídeos e imagens. Ele é empresário dessa área, com um futuro bastante promissor.

Recentemente, comprou sua primeira máquina de plotter e com ela vislumbra a possibilidade de ter, além do seu próprio horário de trabalho, uma melhor situação financeira, o que vai permitir que continue no BMX.

Dica do Marcelo

Para quem está começando no esporte: “No BMX, persistência e perseverança são fatores fundamentais para a sua evolução. Ande de bike sempre que puder, dedique-se, assista aos vídeos e peça dicas para amigos. Nunca esqueça da verdadeira essência do esporte: ande por amor e diversão, BMX é isso”.

Sem se iludir: “Viver de BMX aqui no Brasil ainda é uma tarefa muito difícil, não basta só andar bem, a realidade de ser um atleta patrocinado só atinge uma pequena parcela dos pilotos brasileiros, não abandonar seus estudos e tentar conciliá-los com o esporte é a maneira mais eficaz de garantir seu futuro”.

Renato Tavarez, 24 anos, de Fortaleza – CE

Um dos pilotos do Ceará com mais vídeos e edições assinadas na web. Rueiro como poucos, Renato Tavarez faz parte de um grupo seleto de pilotos que não fazem feio aonde chegam, tanto na questão de manobras quanto na questão de identidade. Poderíamos dizer que uma das especialidades do cara está em deslizar de toda e qualquer forma, mas como o texto faz referência ao mundo intelectual, mencionaremos que ele é especialista em cálculos.

Formado em matemática, o Prof. Tavarez atualmente trabalha em um projeto como formador de professores de 3º ao 5º ano, no município de Caucaia – CE. Vislumbrando futuramente um mestrado, seu futuro como educador, seja como professor no ensino médio público, seja como professor de cursos superiores, está garantido.

Dica do Renato

Para quem está começando no esporte: “Sou apaixonado pelo esporte. Comecei a praticar com 15 anos, e quando iniciei não havia tanta estrutura quanto há hoje. Foram construídas pistas públicas, há um maior acesso a equipamentos e vídeos facilitando as informações. No BMX, é preciso ter força de vontade, conhecer um pouco do esporte e ter um lugar onde possa iniciar a prática junto com alguém mais experiente. Depois, é se divertir e se apaixonar”.

Sem se iludir: “Temos que saber conciliar tanto o esporte quanto o trabalho e estudos para não cair nessa ilusão do BMX Forever. Sei que quem pratica o esporte se sente muito bem e apaixonado, porém, não é motivo para não estudar e só andar de bike”.

Finalizando

É importante continuar sonhando, persistindo, acreditando que um dia você será um grande piloto. Talvez você consiga um patrocínio de uma grande empresa e tenha a oportunidade de viajar todo o mundo e viver do esporte. Sonhe, mas sonhe acordado. Saiba que isso é difícil de acontecer, não só no Brasil, mas em qualquer lugar do mundo. É um absurdo e uma ignorância pensar que isso pode acontecer com facilidade.

O principal, como os três pilotos indicaram, é se divertir, andar por paixão, sem esquecer-se do exemplo que eles deram no plano intelectual. Quer uma referência para começar no BMX? Siga esses caras: estude muito, dedique-se a aprender uma profissão com o mesmo entusiasmo que pratica o esporte. É isso que vai lhe garantir um futuro mais digno, em que você não precise se privar, por exemplo, de ter uma boa bicicleta para dar continuidade aos rolês. Aí sim você poderá vivenciar a ideologia do “BMX Forever”.