Não podemos permitir que a bicicleta perca sua essência de simplicidade

A bicicleta mais do que nunca virou a queridinha mundial, com seu carisma histórico e potencial turbinado pela pandemia, é notório que os seres humanos estão pedalando cada vez mais.  O mercado que gira em torno da bicicleta está aquecidíssimo, basta uma rápida pesquisa na internet, nas mídias tradicionais para verificar a explosão mundial de produtos e serviços associados aos usuários de bicicletas.

Raras cidades no Brasil e em outros países onde os parlamentos são ativos, cidadãos e comprometidos com a nossa Casa Comum, estão debatendo e implantando novas políticas públicas para o ciclismo, fruto dos reflexos causados pela pandemia, a exemplo do que acontece no Parlamento da União Europeia.

A visibilidade do potencial da bicicleta é muito positiva e incentivadora. Contudo não podemos permitir que a bicicleta perca sua essência de simplicidade que na sua universal subcultura une pessoas de diferentes classes sociais, como sinaliza o escritor norte-americano Chris Carlsson.

“A bicicleta se tornou um significante cultural que começa a unir pessoas de diferentes estratos. Sinaliza uma sensibilidade que vai contra as guerras do petróleo e a devastação do meio ambiente provocada pelas indústrias petrolíferas e químicas, a decadência urbana imposta por carros e rodovias, a infinita expansão monocultural que se espalha a partir dos bairros de classe média alta”.

Como cidadãos(ãs) e fundamentalmente como ciclistas conscientes, mesmo diante das nossas limitações como seres humanos, pedalando onde estiver, temos que zelar e partilhar de infinitas formas a mais importante característica da bicicleta. Ser uma ferramenta humanizadora que contribui de forma concreta para a humanidade se humanizar.

É preciso que a mercadologia que festeja mundialmente os lucros do mercado da bicicleta, sinalize de forma clara e concreta, potencializando a subcultura da bicicleta, Robin Haevens, no livro NowTopia, destaca. “Nesta subcultura da bicicleta, não há nenhuma pessoa que seja a melhor, que esteja ganhando ou recebendo mais dinheiro. É uma comunidade bastante igualitária, em que todos podem se destacar, mas não tem que ser os maiorais”.

Não podemos perder nossa essência de ciclista, localismo, ritmo mais humano, mais interação cara a cara, autossuficiência tecnológica prática, exercer cidadania, reciclagem, ambiente urbano saudável com solidariedade e convívio humano. Assim estaremos pedalando pelo bem da nossa Casa Comum e para que não nos tornemos banais consumidores, colecionadores de código de barras, girando na modinha ou ciclistas de plástico.

Dado Galvão, documentarista, ciclista, fundador do Movimento @cicloolhar